Na próxima terça-feira (16/01) às 18h30, o Cineclube CriptoGoiamun estreiará o espaço de exibição de filmes na nova Casa Sinestésica (@casasinestesica) com a apresentação de duas obras fantásticas do cinema brasileiro.
A primeira (Mangue Bangue) trata-se de um filme extremamente crítico e forte acerca do conservadorismo na sociedade brasileira, e a segunda (A Loira do Banheiro) é uma produção guarapariense espetacular, que se passa no Radium Hotel, do lendário Joel Caetano.
"Mangue Bangue" (Brasil, 1971. Direção de Neville D'Almeida)
Filmado no Mangue, uma zona de prostituição no Rio de Janeiro, o filme acompanha a loucura de um homem em meio ao milagre econômico na década de 1970, na mesma época da liberdade sexual, uso excessivo de drogas e a censura. Mangue-Bangue não é de fácil classificação. Sem falas e quase integralmente musicado, é na interlocução entre acordes e acenos que o conjunto se estabelece, algo como um brado de libertação cinematográfica, passando desse modo longe das convenções às quais resolvera afrontar. Em dado instante, uma briga feroz entre galos enfezados é sincronizada com a bateria que ressoa pontuando a ação. Noutro, o embate animal adquire sintomas de bailado, justaposto à deambulação de mulher vivida por Maria Gladys como demonstração da força inerente à animalidade que os equivale. Há uma evidente vontade de romper uma lógica comportada, assim dando tela e vez aos marginalizados, vide as tomadas dos travestis do Mangue, região do Rio de Janeiro notabilizada por ser uma área de prostituição. Todavia, a dialética revolucionária de Neville comporta, também, o vislumbre de uma amamentação. a principal força de Mangue-Bangue está na transformação experienciada pela figura encarnada intensamente por Paulo Villaça – ator que ficou famoso por interpretar o personagem-título de O Bandido da Luz Vermelha (1968), um dos marcos do cinema de invenção. De homem angustiado na efervescente bolsa de valores, ele passa a espécime num encontro com sua selvageria ontológica. Essa metamorfose devolve o indivíduo ao seu estado puro, destituindo-lhe dos bons modos e padrões aceitos. (Resenha de Marcelo Müller)
"A Loira do Banheiro" (Joel Caetano, 2015)
Joel Caetano apresenta a sua versão da lenda que assombra as escolas de todo o país. A Loira do Banheiro acontece num internato sombrio, onde o mal vai além do que se esconde atrás do espelho. Este curta-metragem de terror nacional foi escrito e dirigido por Joel Caetano para o longa "As Fábulas Negras" (2015), produzido por Rodrigo Aragão. A estética dos filmes segue um padrão, uma fotografia escura, amarelada, com uma cor de terra, remetendo ao interior dos estados brasileiros, local onde a ação da maioria dos curtas ocorrem, fazendo muito sentido com a sua temática, pois o interior do país é onde essas histórias são muito consumidas e compartilhadas formando um imaginário popular. A transição de histórias e planos se dá por um efeito de projetor mantendo grãos na imagem, conversando com a fotografia que dá um toque envelhecido para a imagem. O curta revisita um clássico das lendas urbanas brasileiras de um jeito brasileiro, mas flertando com o cinema japonês de horror (o internato de garotas e até a forma como elas se vestem lembram muito os filmes orientais). O efeito desse flerte entre cinema brasileiro e japonês traz um resultado interessante , já que a colorização, a locação, os personagens e o estilo da escola/internato cria uma mistura de nacionalidades formando uma estética nova e própria, que causa uma confusão pela mistura de referências. É um exemplo de como o gênero horror é capaz de englobar cânones de diversas regiões e gêneros cinematográficos criando uma estética nova a partir da boa reutilização do já conhecido.
E a Casa Sinestésica, você já sabe: fica na Av. Barcelona, 192, Praia do Morro, ao lado do Shopping Paris, em Guarapari-ES.
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